sexta-feira, 9 de julho de 2010

Terapia da fala


As dificuldades de comunicação verbal nas crianças são frequentes, nomeadamente nas idades pré-escolar e escolar, e podem ser manifestadas das mais diversas formas, tendo ainda várias razões de ser. A terapia da fala é a especialidade mais indicada para estas situações e, embora seja válida para pessoas de todas as idades, o ideal é sempre uma detecção precoce, de forma a iniciar um tratamento rápido e eficaz.

O que é a terapia da fala?
Especialidade multifacetada, a terapia da fala é a mais indicada para detectar, avaliar, diagnosticar e tratar as diferentes dificuldades que possam estar a travar ou a dificultar o desenvolvimento da comunicação humana. Apesar de se autodenominar “terapia da fala”, o seu campo de acção é bastante mais abrangente e incide sobre a reabilitação da linguagem, articulação, voz e gaguez, bem como os próprios actos de mastigar e engolir. Em crianças mais velhas, pode ainda incluir uma intervenção ao nível das capacidades de escrita e de leitura. A detecção precoce é extremamente importante nas crianças mais novas, simplesmente para que possam ter ultrapassado esses obstáculos quando chegarem à fase de ler/escrever que, por si só, já é um desafio.

Falar ou não falar?
Enquanto algumas crianças com dois anos já falam perfeitamente e sem parar, outras – com a mesma idade ou até mais – dizem meia dúzia palavras. Porquê? Existem vários motivos que desinibem o desenvolvimento completo das capacidades comunicativas das crianças e vão desde perturbações auditivas, cognitivas, neurológicas e amnésicas; às lesões e paralisias cerebrais ou até acidentes vasculares cerebrais. As deficiências respiratórias ou de deglutição, assim como defeitos de nascença (caso das fissuras labiopalatais) são outros factores a ter em conta. A esta lista podemos ainda acrescentar a malformação e consequente fraqueza dos órgãos da fala, o abuso vocal ou a utilização incorrecta da voz, as perturbações emocionais e de atenção.

Os principais sinais
Uma criança que esteja a enfrentar dificuldades comunicativas, por qualquer que seja o motivo, pode estar a emitir esses sinais e mesmo debaixo do seu nariz! E não nos referimos apenas às crianças muito novas – por vezes também as mais velhas podem chegar a uma certa etapa da evolução comunicativa e simplesmente estagnar, ou seja, nem sempre acontece apenas na altura em que a pequenada aprende (ou devia de aprender!) a falar. Esteja atento às seguintes manifestações e se a criança em questão se encaixar em dois ou mais dos cenários abaixo apresentados, recomenda-se uma consulta com um terapeuta da fala.

Linguagem:
•A criança tem 2 anos e ainda não fala? Ou diz apenas poucas palavras?
•Parece não perceber o que as pessoas lhe estão a dizer?
•Não responde ou responde inadequadamente ao que lhe é dito ou pedido?
•É distraída, prestando pouco atenção àquilo que a rodeia?
•A sua forma de comunicação resume-se a gestos?


Voz:
•A criança tem uma voz rouca? Tem de se esforçar para falar?
•Utiliza os gritos como forma de comunicação habitual?
•A criança queixa-se de dores de garganta (que no fundo pode ser a garganta seca e áspera)?
•Já foi “gozada” (pelos irmãos ou na escola) pela maneira como fala?


Articulação:
•A criança pronuncia todos os sons e letras correctamente ou tem por hábito trocá-las?
•A criança fala muito depressa ou atrapalha-se frequentemente quando está a conversar?
•A criança fala pelo nariz?
•Utilizou a chupeta até muito tarde? Ainda não a largou?


Gaguez:
•A criança tem mais de 4 anos e já evidencia sinais claros de gaguez?
•Quando fala, bloqueia ou repete muitas vezes as mesmas palavras?
•A criança isola-se muito?
•Considera que a criança tem medo ou vergonha de falar?


Mastigar e engolir:
•A criança mastiga os alimentos de boca aberta?
•Tem dificuldade em mastigar ou não consegue mastigar?
•É frequente a criança babar ou engasgar-se com alimentos sólidos? E líquidos?


Ler e escrever:
•A criança troca sons ou letras quando está a ler ou a escrever?
•Não gosta de ler? Demora muito tempo a fazê-lo?
•Não gosta de escrever?
•A criança comete muitos erros quando lê ou escreve?


Tratamento intensivo
Antes de iniciar qualquer tratamento relacionado com a terapia da fala, a criança será submetida a uma consulta de avaliação para que se possa estabelecer se o seu nível de comunicação é ou não adequado à sua idade. Recorrendo a testes perceptivos e/ou instrumentais, esta avaliação é realizada em estrita colaboração com os pais, que a podem complementar com dados importantes, referentes ao quotidiano e aos hábitos da criança. O tratamento em si – frequência e método – é determinado com base no quadro clínico apresentado pela criança onde, já sabemos, cada caso é um caso. As sessões, que podem ser semanais ou bissemanais, são normalmente individuais, onde a terapeuta da fala e a criança, interagem num ambiente lúdico e didáctico. As terapias mais frequentes incluem: jogos (práticos ou computorizados) com objectos, figuras ou animais – para a criança identificar verbalmente, sendo esta uma excelente forma de perceber quais os sons e letras que mais dificultam a sua comunicação; e ainda um espelho, para a criança familiarizar-se com as posições e movimentos correctos dos lábios e da língua.

A importância da terapia
Nunca é demais frisar que a terapia da fala deve ser iniciada o mais cedo possível, até porque as crianças com três anos de idade ou mais novas que beneficiaram da terapia da fala, exibem resultados muito melhores do que as crianças mais velhas. No entanto, as crianças mais velhas também apresentam progresso na terapia da fala, apenas a um ritmo mais lento porque têm já hábitos enraizados, mas que precisam de ser reaprendidos. Para além do factor idade, a colaboração activa dos pais, juntamente com a terapeuta da fala e, de preferência, com o conhecimento de professores e médicos acompanhantes (pediatra, otorrino, psicólogo…) é a receita ideal para um tratamento rápido, válido e com resultados duradouros.

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